[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]O volante Zé Roberto, que disputou a Copa do Mundo de 2006 com a Seleção Brasileira, admitiu que sente saudades da época que jogou pelo Santos, em 2007, mas descartou uma volta ao clube da Vila Belmiro no início da próxima temporada. Contudo, o meio-campista, 36 anos, acrescentou que pode retornar ao Brasil para vestir a camisa alvinegra ainda no ano que vem, quando seu contrato terminar com o Hamburgo, da Alemanha, em junho de 2011.
Em entrevista exclusiva ao Terra, o sempre simpático jogador falou sobre os mais distintos assuntos: confessou nostalgia dos tempos em que defendeu o clube da Vila Belmiro, exaltou a vida na Alemanha, opinou sobre o time santista na próxima temporada, elogiou o novo ciclo da Seleção Brasileira e também fez observações sobre o seu futuro profissional.
Apesar de deixar claro que seu próximo destino no futebol depende muito de sua família, o atleta manteve as portas abertas para voltar ao Santos em 2011 e, quem sabe, encerrar a carreira no clube do litoral paulista.
Confira abaixo, na íntegra, o bate-papo com o volante que se consagrou com a camisa alvinegra há três anos, quando conquistou o Campeonato Paulista e alcançou as semifinais da Copa Libertadores.
Terra: o pessoal aqui em Santos sempre comenta sobre uma volta sua ao clube, ainda mais agora que a janela de transferências vai abrir e o time vai disputar a Libertadores. Existe essa possibilidade? Alguém te procurou?
Zé Roberto: Não, não existe essa possibilidade, pelo menos agora. Tenho contrato aqui com o Hamburgo até junho do ano que vem. Tive um contato com a diretoria do Santos, com o presidente no caso, mas foi no meio do ano, quando eu estava de férias. Fui ver um jogo pelo Campeonato Brasileiro antes da parada para a Copa do Mundo, que foi quando eu conheci o Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro. Também reencontrei o Jamelli (diretor de futebol), pude revê-lo, pois jogamos juntos em algumas Seleções de base. Mas além desse contato, não tive mais nenhum.
E quando acabar o contrato com o Hamburgo, pode acontecer?
Quando acabar esse contrato no meio do ano, existem quatro possibilidades. A primeira é que o Hamburgo me chamou para continuar aqui com eles, pois existe essa vontade por parte do clube de que eu termine a minha carreira aqui e por isso me ofereceram uma renovação de contrato por mais um ano. Outras duas possibilidades seriam Estados Unidos e mundo árabe, pois tive propostas de ambas as partes.
E a quarta possibilidade?
A quarta hipótese seria voltar para o Brasil e encerrar a carreira no Santos. Eu tenho muitas saudades da época em que joguei no Santos, o time estava bem, ganhamos o Paulista e chegamos na semifinal da Libertadores. Foi uma fase muito boa da minha vida e que me dá saudades, sinto falta daquele tempo, da cidade, do clube e da torcida.
E por enquanto, qual dessas hipóteses você pretende seguir?
Como tenho essas quatro possibilidades é difícil hoje eu estar falando que volto para o Brasil e encerro a carreira aí. Quando você tem família, é muito relevante tomar uma atitude precoce ou sem pensar porque tenho filhos que nasceram e estudam aqui, na Alemanha. Isso é um caso para se pensar. Mas vou tomar essa decisão até o mês de janeiro do ano que vem, até porque os clubes se projetam e querem uma definição, e também devo definir isso logo porque tenho a minha família. Até no máximo fevereiro tenho uma posição concreta sobre o que vou fazer em 2011.
O Santos está tentando montar um esquadrão para vencer todos os torneios no ano que vem. Falam de um time com Elano, Lucas, além do Neymar, do Ganso. O que você pensa sobre esse time?
Se vier esse pessoal todo que falam, com certeza é um time que será candidato a ganhar tudo no ano que vem. Se for assim mesmo, vai ser um time forte, mas como se tratam de jogadores que atuam fora do País, não sei qual a chance de eles voltarem. Na janela de janeiro pelo menos, eu não tenho essa possibilidade de sair porque, quando sai do Bayern de Munique, em 2009, assinei um contrato de dois anos e quero cumprir até o final, até pela palavra que dei para o presidente do Hamburgo. Por profissionalismo mesmo.
Deixando o Santos um pouquinho de lado, como é viver em Hamburgo? É muito diferente de Munique, que fica mais ao sul da Alemanha e o clima acaba sendo mais frio, ou os estilos de vida são parecidos?
Acho que estou conhecendo a cidade de Hamburgo só agora. Faz um ano e meio que estou aqui. No Bayern eu joguei por seis anos, então Munique era a minha casa praticamente. Uma cidade em que eu me sentia a vontade, tinha comprado até a minha casa lá quando eu voltei para o Bayern de Munique pela segunda vez, após a minha passagem pelo Santos.
E Hamburgo?
Zé Roberto: Embora Hamburgo seja bonita e grande - é a segunda maior cidade da Alemanha depois de Berlim -, eu estou me ambientando ainda. Mas, comparando as duas, no inverno eu gosto mais de Munique, que fica ao sul, mais perto da Suíça e por isso tem muitas opções para esquiar, para passear nas montanhas e tudo o mais. Em compensação, no verão eu prefiro Hamburgo, que fica mais ao norte e tem praias próximas. Ou seja, gosto muito das duas.
E quanto aos clubes? O Bayern de Munique é maior, o que tem mais conquistas, e o Hamburgo não vence um título de expressão desde a temporada 1982/83, mas também é grande. Existe pressão por parte de imprensa e torcida por conta desse jejum?
A estrutura é parecida, ambas são muito boas, mas a diferença é que o Bayern é recordista de títulos, tem mais tradição internacional. Mas em termos de estrutura, são muito parecidos, são excelentes. No Hamburgo, existe essa pressão que você falou também, pois são quase 30 anos sem vencer o Campeonato Alemão. Por ser um clube muito tradicional - é o único a nunca ter descido para a segunda divisão -, a torcida cobra muito.
Observação: o Hamburgo conquistou, na temporada 1982/83, a Liga dos Campeões da Europa e o Campeonato Alemão - no que foram seus últimos títulos de grande expressão. Posteriormente, troféus apenas o da Copa da Alemanha, em 1987/88, e da Copa da Liga Alemã, em 2002/03.
E no Campeonato Alemão atual? O Hamburgo está em nono, a torcida pega no pé?
Como a gente é experiente isso é normal, conseguimos conviver com isso por ter jogado em outros clubes onde também existia pressão. Mas estamos na luta pelo título, estamos em nono, mas a pontuação de um time para o outro é muito próxima, apenas o Borussia Dortmund se distanciou. Estamos a apenas três do quarto colocado e a apenas seis do vice-líder. A distância não é muito grande, ainda podemos subir na tabela e quem sabe até brigar pelo título.
Observação: a entrevista foi feita na última sexta-feira, 19, dia que antecedeu o duelo entre Hannover e Hamburgo pelo Campeonato Alemão. A equipe de Zé Roberto acabou derrotada por 3 a 2 e agora está com 18 pontos, a nove do segundo colocado, o Mainz, e a sete do terceiro lugar, o Bayer Leverkusen. O líder Borussia tem 34.
Falando um pouco de Seleção, você tem acompanhado o trabalho do Mano? O que tem achado desse processo de renovação no time do Brasil, com muitos jovens, como Neymar, Ganso, Philipe Coutinho, André, entre outros?
Acredito que seja um renascimento essa nova safra da Seleção. É uma geração muito boa, de jogadores jovens, meninos de muito talento. Essa nova equipe com certeza está sendo formada agora visando o próximo Mundial, que vai ser em casa, e acho que isso é válido para conquistar o título. Eu vejo uma Seleção que se inicia agora e já está com um trabalho muito bom, uma base também. Se continuar assim, ainda mais com esses nomes todos que você falou, acho bem provável que o Brasil possa vencer a Copa do Mundo de novo.
Para finalizar, você vai completar 37 anos no ano que vem e, em breve, encerra a carreira. O que pretende fazer quando pendurar as chuteiras?
Eu tenho o meu projeto para colocar em prática, a minha fundação "Colhendo Frutos em Terra Seca". Também acredito que deva continuar no futebol, e isso vai variar. Por exemplo, se eu decidir jogar nos EUA, a equipe que quer me levar tem um projeto e esse projeto é muito bom, é do New York Red Bull. Esse clube tem um projeto já existente no Brasil, no interior de São Paulo, disputando a terceira divisão estadual. E de repente, encerrando a carreira com eles, eu possa vir a ser o representante deles no País.
Observação 1: a "Fundação Zé Roberto - Colhendo Frutos em Terra Seca" é uma ideia que o jogador amadurece há anos. O objetivo do projeto é ajudar e profissionalizar garotos carentes e moradores de rua, tirando-os das periferias e oferecendo-os um futuro melhor.
Observação 2: a filial futebolística do Red Bull Brasil está sediada em Campinas e manda seus jogos no Estádio Moisés Lucarelli, da Ponte Preta. Em 2010, a equipe foi campeã da Série A-3 do Campeonato Paulista e ganhou o direito de disputar a A-2 na próxima temporada.
Nada de descanso quando encerrar então?
Então, esse projeto desse clube americano é um projeto que investe muito em esporte. E preciso pensar que a próxima Copa do Mundo vai ser no Brasil também. Fizeram-me um convite, e com certeza quando encerrar a carreira, se der certo, é uma proposta existente. Devo com certeza continuar no esporte, ainda não sei falar diretamente no quê, mas vou fazer algo relativo a isso. E é claro que pretendo e vou descansar, pelo tempo que já jogo acho que mereço um pouquinho, não é (risos)? Mas ainda vou sentar e decidir direitinho.